O preço do barril de petróleo não para de cair desde o verão passado: em sete meses desceu de 113 (início de julho de 2014) para 46 dólares (final de janeiro de 2015). Uma queda de quase 60%.
A procura continua a crescer, mas claramente menos do que no passado devido ao
abrandamento económico global, seja na China, no Japão ou na zona euro. A Agência
Internacional de Energia (AIE) reviu novamente em baixa, pela quarta vez em seis meses,
as previsões de vendas de petróleo em 2015. Em poucos meses, caíram 230 mil barris por
dia, para uma procura mundial que, este ano, deverá rondar os 93,3 milhões de barris
diários. A oferta também nunca foi tão abundante, devido sobretudo à produção de 9
milhões de barris por dia de petróleo de xisto nos EUA. A produção americana é
atualmente duas vezes maior do que em 2008. Mesmo os países da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP) produzem cada vez mais, embora tenham decidido limitar a
sua produção a 30 milhões de barris diários.
Hoje, estima-se haver uma sobreprodução de petróleo de 1,5 a 2 milhões de barris por
dia. E a OPEP decidiu não cortar a produção para manter a sua quota de mercado.
Na nossa opinião, o preço do petróleo vai continuar sob pressão até 2016. Nessa
altura deverá estabelecer-se um novo equilíbrio de forças entre a oferta e a procura.
Esta deverá então começar a aumentar devido à recuperação da economia mundial e à
descida do preço do ouro negro, tornando esta matéria-prima mais atrativa. Este fator
será eventualmente combinado com uma queda da oferta se algumas empresas renunciarem
temporariamente à exploração de alguns campos petrolíferos que, entretanto, tornaram-se
deficitários devido aos baixos níveis do preço do petróleo.
Duas visões da queda do petróleo
A queda do preço do ouro negro
é uma boa notícia para os consumidores, que gastam menos dinheiro em combustível, e para
várias empresas de outros setores de atividade que veem os seus custos diminuir.
Contudo, é claramente negativa para os acionistas das empresas petrolíferas, cuja
cotação é muito sensível aos preços do petróleo: em geral, baixa com a descida do preço
do petróleo. Esta tem um impacto direto nas receitas das empresas petrolíferas,
sobretudo naquelas que estão mais viradas para a área de Exploração & Produção. A
queda do preço do petróleo desencoraja o investimento em novas explorações petrolíferas,
porque, dificilmente, proporcionam um bom retorno do investimento. Quanto mais baixar o
preço do petróleo, mais as empresas vão procurar baixar custos, adiar investimentos,
reduzir os dividendos e rever os seus contratos de subcontratação.
Algumas boas oportunidades
Após ajustarmos as nossas estimativas
de resultados, aos níveis atuais, consideramos que algumas empresas continuam
interessantes para investir numa perspetiva de longo prazo. Damos preferência a empresas
de escala mundial, diversificadas e com atividades a jusante na cadeia de produção. São
os casos de empresas sólidas como a Chevron, que é a nossa preferida e integra a
carteira de ações PROTESTE INVESTE, a BP ou a Repsol. Estas estarão mais bem preparadas
para resistir à queda dos preços do petróleo, graças à sua solidez financeira (muita
liquidez, reduzido endividamento) e à sua posição no mercado. Quando o preço do petróleo
recuperar, serão as primeiras a tirar partido dessa situação. A portuguesa Galp Energia
também é uma boa opção, já que atualmente tem uma menor exposição à área de Exploração
& Produção, mas beneficia de um forte potencial de crescimento a longo prazo nesse
segmento do setor petrolífero. Devido à sua dimensão mais reduzida, a Encana é
recomendada numa ótica de diversificação, não sendo uma primeira escolha para integrar o
portefólio.
Diversificar é fundamental
De realçar que o investimento no
setor petrolífero apenas faz sentido no contexto de uma carteira diversificada,
precisamente para prevenir fenómenos como o atual, em que um setor (ou um país) tem um
desempenho claramente inferior aos restantes. Logo, apenas deverá escolher uma ou duas
destas ações para integrar a sua carteira. Se preferir investir através de fundos,
também pode fazê-lo, embora nesta altura não recomendemos a subscrição de nenhum fundo
do setor petrolífero. Outra hipótese, que também não recomendamos devido ao seu elevado
risco, é investir em Exchange Traded Funds (ETF) que estejam indexados diretamente à
evolução do preço do petróleo. Neste caso poderia fazê-lo através de ETF longos (os
ganhos advêm da subida do preço do petróleo) ou de ETF curtos (o investidor ganha quando
o preço do petróleo desce).
Cotações das ações das empresas petrolíferas a 9 de fevereiro. O indicador de risco varia de 1 a 5. Quanto mais baixo o valor, menor é o risco da ação.
Chevron
Bolsa de Nova Iorque:
110,43 USD
Risco: 2
O grupo
norte-americano continua a investir em força. E, apesar da queda do preço do petróleo,
os lucros têm subido graças à redução dos custos na área da refinação. Goza de boas
perspetivas de crescimento.
BP
Bolsa de Londres: 457,10
pence
Risco: 4
A segunda
petrolífera mundial foi bastante penalizada em bolsa, mas o grupo dispõe dos meios
necessários para suportar os seus investimentos e tem margem suficiente para aumentar os
dividendos.
Repsol
Bolsa de Madrid: 16,47
EUR
Risco: 4
O grupo espanhol
voltou à ribalta do setor petrolífero mundial graças à compra (bem gerida) da canadiana
Talisman. Mostra-se focado em relançar o seu crescimento, após o fim da batalha legal
relativa à YPF. Dispõe dos meios necessários para o conseguir.
Galp Energia
Bolsa de Lisboa: 10,42
EUR
Risco: 3
Apesar de ter uma
presença mais forte na área de Refinação & Distribuição, o que é positivo face à
atual queda do preço do petróleo, a Galp deverá aumentar fortemente a sua produção de
petróleo nos próximos anos devido sobretudo à presença no Brasil e em Moçambique.
Encana
Bolsa de Nova Iorque: 13,91
USD
Risco: 3
A produção do grupo
está a aumentar e o foco colocado no petróleo, onde tem realizado aquisições, em
detrimento do gás (menos rentável) é uma estratégia correta. É um título interessante
numa perspetiva de diversificação.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.